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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Quem eram os Netsarim? Significado do nome "Netsarim"O perfil dos Netsarim (Nazarenos) à luz de registros históricos.Do Judaísmo Nazareno ao Cristianismo Pagão. O relacionamento entre os Netsarim e os judeus não-crentes em Yeshua


QUEM ERAM OS NETSARIM?

Por Tsadok Ben Derech





Atualmente, muitas pessoas acham que, no primeiro século, todos os discípulos de Yeshua eram chamados de “cristãos”, e que estes criaram uma nova religião, chamada de Cristianismo. Ledo engano.

Inicialmente, todos os discípulos de Yeshua eram conhecidos como netsarim (nazarenos), conforme o texto de Atos 24:5. Tanto judeus quanto gentios estavam unidos em um só corpo, alcunhados de netsarim. Somente na cidade de Antioquia é que os discípulos foram chamados de “cristãos” pela primeira vez (Atos 11:26), e isto por volta dos anos 40 a 60 d.C[1]. Enquanto em Antioquia os seguidores do Messias foram apelidados de “cristãos”, em todos os outros lugares se manteve o nome original: netsarim (nazarenos).

Segundo as lições do erudito Ray A. Pritz, da Universidade de Jerusalém, judeus e gentios crentes em Yeshua eram conhecidos como “nazarenos” (netsarim), e somente muito tempo depois houve uma distinção terminológica entre nazarenos e cristãos (Nazarene Jewish Christianity, The Magnes Press, The Hebrew University, 1992, páginas 15 a 17).

Se no passado judeus e gentios eram chamados de “nazarenos” (netsarim), esta situação mudou e se passou a fazer a seguinte diferenciação de nomenclatura:

1) os netsarim (nazarenos), que eram judeus crentes em Yeshua HaMashiach (hebraico: netsarim; aramaico: natsraya = nazarenos);

2) os cristãos, setor constituído por gentios crentes em Yeshua.

Netsarim (nazarenos) e cristãos estavam unidos e tinham plena comunhão, frequentando sinagogas, já que até então ainda não existiam Igrejas.

Em Ma’assei Sh’lichim (Atos dos Emissários, “Apóstolos”), capítulo 15, há uma discussão acerca do relacionamento entre gentios e judeus. Na ocasião, Ya’akov (Tiago) estabelece uma série de recomendações aos gentios e prescreve:

“Porque Moshé [Moisés], desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e, em cada shabat [sábado], é lido nas sinagogas.” (Atos 15:21).



No texto transcrito, identificam-se três importantes dados: 1) judeus e gentios se reuniam em cada shabat (sábado); 2) eles estudavam a Lei (Torá) de Moshé/Moisés; 3) estavam reunidos nas sinagogas (e não nas igrejas). Estes três elementos indicam que judeus e gentios praticavam o Judaísmo!!!

O Cristianismo, como se verá adiante neste livro, foi difundido por Inácio de Antioquia (o “Santo” Inácio católico) e é contrário às primeiras práticas dos emissários (“apóstolos”) de Yeshua. Eis o Cristianismo de Inácio: 1) determina a reunião no domingo; 2) ensina que a Lei (Torá) de Moshé (Moisés) foi abolida pelo Novo Testamento; 3) ordena a reunião em Igrejas. Estes três ensinos são totalmente antagônicos àquelas 3 (três) características extraídas de Atos 15:21, conforme visto no parágrafo anterior.

Curial sublinhar: tanto os primeiros emissários (“apóstolos”) quanto os primeiros discípulos de Yeshua foram judeus, ingressando posteriormente na comunidade os gentios, e todos eles eram chamados de netsarim (nazarenos). Somente tempos depois, conforme Atos 11:26, os discípulos gentios passaram a ser chamados de “cristãos” por aqueles que falavam a língua grega.

Nazarenos e cristãos estavam unidos e praticando o Judaísmo ensinado por Yeshua, razão pela qual se congregavam em cada shabat (sábado) para estudar a Torá (“Lei”) de Moshé (Moisés) nas sinagogas (Atos 15:21).

Provar-se-á, aqui e agora, que biblicamente os talmidim de Yeshua eram conhecidos como netsarim (nazarenos).

Quando Sh’aul (Paulo) estava sendo acusado perante o Governador Félix, seus inimigos formularam a seguinte acusação:

“Descobrimos que este homem [Sh’aul/Paulo] é uma peste. Ele é um agitador dos judeus pelo mundo todo. É o líder da seita dos NETSARIM [NAZARENOS].”

(Ma’assei Sh’lichim/Atos 24:5).



Sha’ul (Paulo) rebateu a acusação de que seria um agitador, porém, não negou que seria um dos líderes do grupo conhecido como Netsarim (Nazarenos) ou o Caminho:

“Entretanto, isto eu [Sh’aul/Paulo] admito: adoro o Elohim de nossos pais, de acordo com o Caminho (ao qual eles chamam seita). Continuo a crer em todas as coisas de acordo com a Torá [Lei] e todos os escritos dos Profetas.”

(Ma’assei Sh’lichim/Atos 24:14).



Antes de Sha’ul (Paulo) reconhecer que Yeshua é o Mashiach, perseguia os discípulos do Salvador, conhecidos como membros “do Caminho”:

“Sha’ul [Saulo/Paulo], respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Dammesek [Damasco], a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levassem presos para Jerusalém.”

(Ma’assei Sh’lichim/Atos 9:2).



Logo, verifica-se que os primeiros discípulos de Yeshua eram chamados de netsarim (nazarenos) ou simplesmente membros do Caminho (At 9:2, 24:5,14 e 19:9,23). A este respeito, giza o rabino James Scott Trimm:

“O termo ‘o Caminho’ é usado para descrever os crentes em Atos 9:2 e em Atos 22:4 (que na verdade recapitula os eventos de Atos 9:2).

(...)

Este termo [‘o Caminho’] é usado como uma alternativa ao nome ‘Nazarenos’ em Atos 9:2; 19:9; 19:23; 22:4 24:5,14.”

(Hebraic Roots Commentary to Acts, Worldwide Nazarene Assembly of Elohim, 2010, páginas 64 e 65).



Em Atos 24:5 e 14, os opositores de Yeshua diziam que os Nazarenos ou do Caminho representavam uma seita[2] do Judaísmo, porém, em verdade, o Judaísmo Nazareno ou do Caminho é a religião bíblica praticada pelos primeiros talmidim (discípulos) de Yeshua. Este judaísmo nada tem que ver com o atual Judaísmo rabínico, que é corolário dos ensinamentos da maioria dos p’rushim (fariseus), estes tão criticados por Yeshua.

Importa consignar que os netsarim (nazarenos) formavam mais um dos tantos grupos existentes do Judaísmo do primeiro século, ou seja, não faziam parte do Cristianismo, que somente veio a surgir tempos depois. Confira o escólio do pesquisador e aramaicista Andrew Gabriel Roth:

“Netsarim é uma seita dentro da categoria mais ampla do Judaísmo.”

(Aramaic English New Testament, Netzari Press, 4ª edição, página 380).



A História comprova que, no período do Segundo Templo, a religião judaica, com seus inúmeros grupos e subgrupos, era conhecida como Judaísmo (ex: Gl 1:13 e 14), e os seguidores de Yeshua eram chamados de Netsarim/Nazarenos (At 24:5), ou “do Caminho” (At 9:2, 24:5,14 e 19:9,23). Destes dados históricos e bíblicos, extrai-se o nome Judaísmo Nazareno, ou Judaísmo do Caminho.

Define-se Judaísmo Nazareno como o ramo do Judaísmo cujos ensinos, doutrinas e práticas foram vivenciados por Yeshua HaMashiach e seus primeiros talmidim (discípulos).

Yeshua não veio para fundar uma nova religião, mas sim para ensinar o Judaísmo de acordo com as Escrituras.

Aquele que segue Yeshua HaMashiach deve vivenciar o Judaísmo por ele lecionado, tomando muito cuidado com as atuais práticas do Judaísmo, visto que muitas delas estão impregnadas de elementos antibíblicos. Muitas pessoas, quando descobrem que Yeshua era judeu e seguia o Judaísmo, terminam por abraçar indiscriminadamente todos os costumes judaicos, sem maior análise crítica, o que é totalmente insensato. A uma, porque o Judaísmo moderno está distante daquele praticado pelos discípulos de Yeshua. A duas, porque o Judaísmo moderno está fundado no pensamento farisaico, fortemente combatido por Yeshua. A três, porque o Judaísmo moderno segue mais a tradição do que a própria Torá. A quatro, porque o Judaísmo moderno incorporou elementos e ritos pagãos.

Tais críticas são estendidas a certos grupos (e não todos) do Judaísmo Messiânico, que não estão imunes de erros e, em muitos casos, preferem colocar os ensinos rabínicos acima das Escrituras.

Por conseguinte, todos os estudos deste site estão focados única e exclusivamente nas práticas bíblicas dos netsarim (nazarenos), os autênticos seguidores do Mashiach (Messias).

E os cristãos? Onde se enquadram?

O texto em aramaico de Ma’assei Sh’lichim/Atos 11:26 é esclarecedor:

כַד אֵשׁכּחֵה אַיתּיֵה עַמֵה לַאנטִיָכִיַא ושַׁנתָּא כֻּלָה אַכחדָא כּנִישִׁין הוַו בּעִדּתָּא וַאלֵפו עַמָא סַגִּיָאא מֵן הָידֵּין קַדמָיַת אֵתקרִיו בַּאנטִיָוכִי תַּלמִידֵא כּרִסטיָנֵא

TRADUÇÃO:

“tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia. E, por todo um ano, se reuniram naquela congregação e ensinaram muitas pessoas. Foi naquele tempo que os discípulos de Antioquia foram chamados pela primeira vez de kristyane [= cristãos].”



Há algo surpreendente na passagem transcrita: no meio do Manuscrito em aramaico aparece a transliteração da palavra grega “cristão”. Isto causa estranheza, pois seria o mesmo que, em um texto em inglês, constasse uma palavra em japonês. Qual seria a explicação para a inserção de um vocábulo grego em uma epístola escrita em aramaico? A resposta é simples: em Antioquia, os discípulos gentios falavam grego e receberam o nome de “cristãos” (grego), que significa “aqueles que seguem Cristo”. Por sua vez, a palavra grega “Cristo” significa “o Ungido”. Obviamente, pessoas que falavam grego usariam um termo em sua própria língua – “cristão”. Em conclusão, percebe-se que o vocábulo “cristão” foi originariamente aplicado aos seguidores gentios de Yeshua, falantes da língua grega, permanecendo o nome “netsarim” (nazarenos) para os discípulos judeus, que se comunicavam em hebraico ou aramaico.

Ministra Andrew Gabriel Roth:

“Os Shlichim/Apóstolos não chamavam a si próprios de ‘kristyane’ (cristãos). Os Shlichim eram membros do Caminho, designados de Netsarim (Atos 24:5, 12-14). Os gentios em Antioquia foram cunhados com a palavra ‘kristyane’, um termo grego para ‘messiânicos’.”

(Aramaic English New Testament, Netzari Press, 4ª edição, página 338).



David Stern também reconhece que a palavra “cristão” foi usada apenas para os crentes gentios, enquanto os judeus eram conhecidos como ‘o Caminho’:

“Penso que o nome ‘Chistianoi’ [cristãos] foi aplicado aos crentes gentios por não-crentes gentios. Por quê? Porque os cristãos judeus teriam designado seus irmãos gentios de fé pelo mesmo termo que usavam para designar a si mesmos: ‘povo que pertence ao Caminho’.”

(Comentário Judaico do Novo Testamento, editora Atos, 2008, página 291).



Logo, se inicialmente judeus e gentios eram chamados de netsarim, em momento posterior houve a distinção dos crentes em Yeshua: 1) judeus, chamados de netsarim (“nazarenos”) ou “do Caminho”; e 2) gentios, alcunhados de “cristãos”.

No livro de Atos, nazarenos e cristãos viviam em comunhão, sendo que a liderança era exercida pelos emissários (“apóstolos”), todos judeus, ou seja, nazarenos. Toda esta harmonia entre judeus e gentios chegou ao fim quando o gentio Inácio de Antioquia, não concordando com a liderança judaica dos nazarenos, criou uma rebelião nas congregações e dividiu os dois grupos, por volta do ano 98 D.C. A partir daí, Inácio afirma que os seguidores de Yeshua deveriam abandonar o Judaísmo, religião praticada pelos nazarenos, e seguir a religião por ele criada – o Cristianismo.

A nova religião, o Cristianismo, começou a florescer no início do segundo século e culminou com a instituição da Igreja Católica Romana no século IV.

Ora, se os netsarim (nazarenos) e os primeiros cristãos eram adeptos do Judaísmo, conclui-se com facilidade que o Cristianismo, oficializado pelo Catolicismo Romano, não representa a religião praticada pelos originais seguidores de Yeshua. Por sua vez, o protestantismo e as atuais denominações evangélicas também não expressam a fé original (salvo raras exceções), visto que seguem inúmeras práticas e dogmas estabelecidos pela Igreja Católica, tais como:

1) a substituição do shabat (sábado) pelo domingo;

2) a abolição das festas bíblicas (Vayikrá/Levítico 23), substituindo-as pelas festas pagãs (ex: celebração da páscoa em data coincidente com a páscoa católica, e não com a data determinada nas Escrituras; o Natal em 25 de dezembro, cuja origem está no paganismo, ressaltando-se que a Bíblia não indica o dia de nascimento do Salvador; etc);

3) a falsa ideia de que a “Lei foi abolida”;

4) a teologia da substituição, que defenda a substituição de Israel pela Igreja nos planos do ETERNO.

Vamos parar por aqui, mas as denominações evangélicas seguem dezenas e dezenas de preceitos errôneos e que têm origem no Catolicismo Papal.

Como asseverado linhas atrás, os nazarenos ou do Caminho eram praticantes do Judaísmo e assim permaneceram, não mudando a fé original, ainda que vitimizados pela rebelião gentílica de Inácio ao criar uma nova religião - o Cristianismo.

Após esta rebelião e a separação entre judeus e gentios, os israelitas fiéis a Yeshua permaneceram com o nome de netsarim (nazarenos) ou do Caminho, enquanto os gentios mantiveram o título de cristãos.

No século IV, estruturou-se o Cristianismo como religião oficial, por meio do Catolicismo Romano, ensejando perseguição a pessoas de outras crenças. Então, algo totalmente contraditório ocorreu: os cristãos, que no passado eram amigos e liderados pelos nazarenos, começaram a persegui-los e exterminá-los, isto é, pessoas que se diziam discípulas de Yeshua (os cristãos) condenavam e martirizavam os nazarenos, os primeiros seguidores do Mashiach. Irmão assassinando irmão em nome da nova religião! Cumpriu-se, então, a profecia de Yochanan (João) de que os falsos profetas sairiam de dentro da própria comunidade de discípulos:

“Eles saíram de dentro de nós, mas não eram parte de nós; porque se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco”

(Yochanan Álef/1ª João 2:19).



Os netsarim (nazarenos) foram muito perseguidos pelo Império Romano, que exterminou grande parte do grupo e de seus escritos, razão pela qual existem poucas fontes históricas subscritas pelos próprios nazarenos a respeito de si próprios, excetuando-se os Ketuvim Netsarim (Escritos Nazarenos, conhecidos incorretamente como “Novo Testamento”). Não obstante, além da descrição fiel dos netsarim (nazarenos) no “Novo Testamento”, há relatos históricos produzidos por seus inimigos, geralmente depreciando os discípulos de Yeshua. De qualquer forma, tais registros históricos são importantes para se entender quem eram, o que pensavam e como agiam os nazarenos.

Epifânio de Salamina, um dos “Pais” da Igreja Católica que viveu no final do século IV D.C, escreveu uma obra em que criticou os nazarenos. Para Epifânio, os nazarenos seriam hereges. Contudo, sabemos com toda certeza que os primeiros discípulos de Yeshua não foram ímpios, mas sim homens tementes ao ETERNO. Eis o relato de Epifânio:

“Os nazarenos não diferem essencialmente dos outros [referindo-se aos judeus ortodoxos], pois praticam os mesmos costumes e as mesmas doutrinas prescritas pela Lei judaica [a Torá], com a diferença que eles [os nazarenos] creem no Messias [Yeshua].

Eles [os nazarenos] creem na ressurreição dos mortos e que o universo foi criado por Deus. Eles afirmam que Deus é um, e que Jesus Cristo [Yeshua HaMashiach] é Seu Filho.

Eles [os nazarenos] são bem versados na língua hebraica. Leem a Lei [referindo-se à Lei de Moisés]...

Eles são diferentes dos judeus e diferentes dos cristãos, apenas no seguinte: eles discordam dos judeus porque chegaram à fé no Messias; mas são distintos dos verdadeiros cristãos porque praticam os ritos judaicos da circuncisão, a guarda do sábado, e outros.”

(En Contra de las Herejías, Panarion 29, 7).



Verifica-se no texto que Epifânio faz uma diferenciação entre os nazarenos e os cristãos. Todavia, importante lembrar que Epifânio foi um dos grandes protagonistas do estabelecimento das doutrinas da Igreja Católica Romana no século IV. Assim, os cristãos, elogiados por Epifânio, eram aqueles que seguiam o Catolicismo Romano, enquanto os nazarenos (netsarim) eram aqueles que se recusaram a aceitar a autoridade da Igreja Católica gentílica.

Interessante registrar que Epifânio considerava os nazarenos como hereges. Ora, será que um “pai” da Igreja Católica Romana tem autoridade para desmerecer os nazarenos, discípulos originais de Yeshua?

Marcel Simon, especialista em História do Cristianismo no primeiro século, tece as seguintes considerações a respeito das declarações de Epifânio:

“Eles [referindo-se aos nazarenos] se caracterizam essencialmente por seu forte apego aos costumes judaicos.

Se eles são hereges na opinião da Mãe Igreja [Católica], é apenas porque continuam apegados a ideias antigas.

Eles [os nazarenos] representam, embora Epifânio categoricamente não admita, os verdadeiros e diretos descendentes da comunidade primitiva [dos apóstolos], a qual nosso autor [Epifânio] sabe muito bem que foi chamada com o mesmo nome dos Nazarenos.”

(Judeo-cristianismo, pg. 47-48).



Reflita sobre a assertiva transcrita acima: os nazarenos eram os “verdadeiros e diretos descendentes” dos apóstolos!

Este é motivo pelo qual nós seguimos o Judaísmo Nazareno ou Judaísmo do Caminho: os nazarenos representam a fé original dos primeiros discípulos de Yeshua !!!

Infere-se daí que os dogmas hoje reinantes em quase todos os setores do Cristianismo são falsos: 1) a substituição do shabat (sábado) pelo domingo; 2) a abolição das festas bíblicas; 3) a instituição de festas pagãs (Natal, Ano Novo etc); 3) a concepção de que a Lei (Torá) foi abolida; 4) o pensamento de que a Graça substitui a Lei (Torá); 5) a propagação de que a Igreja substituiu Israel nos planos de YHWH.

Insta repetir: os nazarenos não fundaram o Cristianismo, visto que Yeshua não veio criar uma nova religião.

Confira-se o magistério do historiador Justo Gonzales em sua obra História do Cristianismo:

“... Não pensem que eles [os nazarenos] pertenceram a uma nova religião. Eles eram judeus, e a única diferença que os separavam do restante é que eles acreditavam que o Messias havia chegado, enquanto os demais judeus ainda aguardavam a vinda do Messias”.



Assim, se os nazarenos não instituíram uma nova religião, conclui-se que eles praticaram o Judaísmo ensinado por Yeshua, conhecido como “seita” dos Nazarenos ou “o Caminho” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 24:5 e 14). Em vários artigos deste site, demonstrar-se-á à luz da Bíblia como era o Judaísmo pregado por Yeshua e praticado por seus emissários (“apóstolos”). Nosso objetivo é resgatar a pureza da fé bíblica, revelando a verdade àqueles que buscam um relacionamento sincero com o ETERNO, através da aliança firmada conosco por Yeshua HaMashiach.

Seja bem-vindo à família dos netsarim (nazarenos)!!!




O SIGNIFICADO DO NOME “NETSARIM”



Por Tsadok Ben Derech



Como afirmado em outro artigo, os israelitas discípulos de Yeshua eram chamados de membros do Caminho (At 9:2, 24:5,14 e 19:9,23) ou de netsarim (nazarenos):

“Descobrimos que este homem [Sh’aul/Paulo] é uma peste. Ele é um agitador dos judeus pelo mundo todo. É o líder da seita dos NETSARIM [NAZARENOS].”

(Ma’assei Sh’lichim/Atos 24:5).



De onde surgiu o nome “nazarenos”?

Deriva do próprio título atribuído a Yeshua, “o Nazareno”:

“e [Yeshua] foi habitar na cidade de Natseret, para cumprir o que foi dito pela boca do profeta: Ele será chamado Netseret [Nazareno].”

(Matityahu/Mateus 2:23, segundo o Manuscrito em hebraico de DuTillet).



No texto em epígrafe, está escrito que Yeshua seria chamado de Netseret (Nazareno) para cumprir o que foi dito pelo profeta, ou seja, a profecia de Yeshayahu (Isaías) 11:1-4:

“Do tronco de Yishai [Jessé] sairá um rebento [NETSER], e das suas raízes, um renovo.

Repousará sobre ele o Espírito de YHWH, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor de YHWH.

Deleitar-se-á no temor de YHWH; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos;

mas julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso”.



Ou seja, Yeshua é o rebento de Yishai (Jessé), sendo que a palavra “rebento” em hebraico é נצר (Netser), radical que forma a palavra Netseret (נצרת/Nazareno). Então, Yeshua é o Nazareno (= rebento/broto) que veio cumprir a transcrita profecia messiânica de Yeshayahu (Isaías). Por sua vez, “Nazarenos” (Netsarim) são os seguidores de Yeshua, o Nazareno.

Significativo destacar que rebento (“Nazareno”) é um broto que produz fruto. Consequentemente, os netsarim (nazarenos) devem dar fruto, tal como destacou o Mashiach:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.

Toda a vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.” (Yochanan/João 15:1-2).

“Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?

Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus.

Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons.

Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.

Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.”

(Matityahu/Mateus 7:16-20).



Registra-se ainda que Netseret (Nazareno) provém do radical do verbo “natsar” (נָצַר), que denota “guardar”, “cumprir” e “vigiar”, muito usado no Tanach para expressar a guarda e o cumprimento dos mandamentos da Torá. Por conseguinte, “Nazareno” é aquele que cumpre a Torá. Citam-se alguns textos bíblicos em que a raiz “natsar” possui o sentido exposto:

“Todas as veredas de YHWH são graça e verdade para os que guardam [לְנֹצְרֵי] a sua aliança e os seus testemunhos.”

(Tehilim/Salmos 25:10).

“para que pusessem em Elohim a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Eohim, mas os seus mandamentos observassem [יִנְצֹרוּ].”

(Tehilim/Salmos 78:7).

“Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho, que andam na Torá de YHWH.

Bem-aventurados os que guardam [נֹצְרֵי] as suas prescrições e o buscam de todo o coração”

(Tehilim/Salmos 119:2).



É patente que o radical נצר (natsar) está sendo usado em conexão com a guarda da Torá, razão pela qual se infere que os נצר'ם (netsarim/nazarenos) são aqueles que cumprem a Torá com todo o coração.

Por sua vez, “notserim” (נֹצְרִים) é outro vocábulo que se liga ao radical hebraico de “Nazareno”, e tem o sentido de “guardiões”, “vigias” ou “sentinelas” (Yirmeyahu/Jeremias 31:5 [31:6]):

“Porque haverá um dia em que gritarão as sentinelas [נצרים] na região montanhosa de Efraim: Levantai-vos, e subamos a Sião, a YHWH, nosso Elohim”.



Considerando que no hebraico antigo não havia sinais massoréticos, escreve-se da mesma forma os vocábulos “sentinelas” e “nazarenos”: נצרים. Logo, os nazarenos são as sentinelas e os guardiões da Torá.

Ante todo o exposto, resumem-se as seguintes acepções para netsarim (nazarenos):

a) aqueles que são discípulos de Yeshua, o Nazareno;

b) aqueles que são brotos, isto é, servem para dar fruto;

c) aqueles que guardam os mandamentos da Torá;

d) as sentinelas (ou guardiões) da Torá.


O PERFIL DOS NETSARIM (NAZARENOS)

À LUZ DOS REGISTROS HISTÓRICOS



Por Tsadok Ben Derech



Atualmente, existem diversos grupos judaicos crentes em Yeshua que afirmam: “nós adotamos as mesmas práticas dos originais emissários (apóstolos)”. Sustentam estes grupos que eles são os autênticos discípulos e todos os outros são falsos. Como distinguir o joio do trigo? Como eram os netsarim e quais eram suas crenças?

Qualquer grupo da atualidade somente pode se autodeclarar “nazareno” caso tenha a mesma fé dos discípulos originais de Yeshua. Caso contrário, estarão seguindo falsas doutrinas. Felizmente, existem registros históricos que apontam a legítima e verdadeira fé dos netsarim!

Em diversos outros artigos, iremos abordar várias características dos membros do Caminho sob a perspectiva das Sagradas Escrituras, fonte única e soberana da verdade. Todavia, com o objetivo de introduzir o tema, serão apresentadas características pautadas em registros históricos, deixando-se a análise mais acurada de tais temas ao longo de outros estudos, ocasião em que serão expostos os fundamentos bíblicos.



a) Os discípulos israelitas eram chamados de netsarim (nazarenos) e não de cristãos

“Estes sectários ... não se chamam de cristãos, mas ‘nazarenos’ ...”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29).



b) Reconheciam que Yeshua é o Mashiach (Messias)

“Os Nazarenos ... aceitam o Messias de tal maneira que eles não deixam de observar a Lei antiga [Torá].”

(Jerônimo, Commentary on Isaiah, Is 8:14)

“Eles não têm ideias diferentes, mas confessam tudo exatamente como a Lei [Torá] proclama e na forma judaica, exceto por sua crença no Messias ... Eles discordam dos outros judeus, porque eles vieram à fé no Messias.”

(Epifânio de Salamina, Panarion 29).



c) Professavam que Yeshua é o Filho de Elohim

“Eles acreditam que o Messias, o Filho de Deus, nasceu da virgem Maria.”

(Jerônimo, Letter 75, Jerome to Augustine).

... e eles declaravam que Deus é um, e que seu Filho é Jesus Cristo [Yeshua HaMashiach].”

(Epifânio de Salamina, Panarion 29.7.2).



d) Criam no nascimento virginal de Yeshua

“Eles acreditam que o Messias, o Filho de Deus, nasceu da virgem Maria.”

(Jerônimo, Letter 75, Jerome to Augustine).



e) Eram praticantes da Torá (“Lei”)

“Os Nazarenos ... aceitam o Messias de tal maneira que eles não deixam de observar a Lei antiga [Torá].”

(Jerônimo, Commentary on Isaiah, Is 8:14)

“Eles não têm ideias diferentes, mas confessam tudo exatamente como a Lei [Torá] proclama e na forma judaica, uma vez que eles ainda estão acorrentados[1] pela Lei [Torá] - a circuncisão, o sábado [shabat] e o restante. Eles não estão de acordo com os cristãos.”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29)

“Eles [os nazarenos]... perseveram na observância dos costumes que estão prescritos na Lei [Torá]...”

(Irineu de Lyon, Contra Heresias, 1:26)



f) Praticavam a circuncisão (b’rit milá)

“...mas [os nazarenos] confessam tudo exatamente como a Lei [Torá] proclama e na forma judaica... a circuncisão[2], o sábado [shabat] e o restante.”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29)

“Eles [os nazarenos] praticam a circuncisão...”

(Irineu de Lyon, Contra Heresias, 1:26)



g) Para os nazarenos, não havia distinção entre “Antigo” e “Novo” Testamento. Toda a Palavra do ETERNO é una e indivisível, inexistido superioridade de um livro bíblico sobre outro. Consequentemente, usavam todas as Escrituras em conjunto (Tanach/“Antigo Testamento” e B’rit Chadashá/“Novo Testamento”)

“Eles usam não só o ‘Novo Testamento’, mas também o ‘Velho Testamento’, assim como os judeus o fazem ... ”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29)



h) Usavam os manuscritos da B’rit Chadashá (Aliança Renovada/“Novo Testamento”) de acordo com os textos originais, escritos em hebraico e aramaico (e não em grego)

“Eles têm o evangelho segundo Mateus totalmente em hebraico. Pois é claro que eles ainda preservam esta obra no alfabeto hebraico, como ele foi originalmente escrito”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29).

“Escreveu [Hegésipo, o Nazareno] também muitas outras coisas, das quais fizemos menção anteriormente, em parte, ao dispor as narrativas conforme as circunstâncias. Põe algumas coisas tomadas do Evangelho dos hebreus e do Siríaco [Aramaico], e em particular tomadas da Língua Hebraica, mostrando assim que se fez crente sendo hebreu.”

(Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, editora Novo Século, 2002, página 92).



i) Os netsarim criam que o ETERNO é um (Echad)[3], e não três Pessoas distintas. Logo, a Doutrina da Trindade, que apregoa que Deus são Três Pessoas diversas, NÃO representa a fé original dos discípulos de Yeshua

“Eles ... declaram que Deus é um [ECHAD] ...”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29)



A antibíblica Doutrina da Trindade foi engendrada por Tertuliano (160 a 220 D.C). Na obra “Contra Práxeas”, Tertuliano reprova a maioria dos crentes porque eles eram “monarquistas”, isto é, criam que o ETERNO é UM, e que o Pai, o Filho e o Espírito são manifestações de YHWH. Ou seja, enquanto a maioria dos crentes em Yeshua pensava corretamente que YHWH é UM, apesar de se manifestar por três aspectos diferentes (“monarquismo”), Tertuliano apregoava erroneamente que Deus são Três Pessoas Diferentes, ensino tipicamente influenciado pelo paganismo, que concebe a ideia de vários deuses.

Cita-se passagem em que Tertuliano combate injustamente a maioria dos crentes:

“Os simples, de fato, (não os chamarei de não-sábios nem de indoutos), que constituem a maioria dos crentes, ficam assombrados com a dispensação (dos três em um), no sentido de que a sua própria regra de fé os afasta da pluralidade de deuses para um único e verdadeiro Deus; não compreendem que, apesar dEle ser o único e verdadeiro Deus, Ele deve ser crido em sua própria economia... Eles estão constantemente nos atacando, dizendo que somos pregadores de dois deuses e de três deuses, enquanto eles mantêm preeminentemente o crédito para eles mesmos de serem adoradores do Único Deus; tal como se a Unidade em si com suas deduções irracionais não produzisse heresia, e a Trindade racionalmente considerada constitui a verdade. ‘Nós’, dizem eles, ‘mantemos a Monarquia (ou único governo de Deus)’.”

(Contra Práxeas, Capítulo 3)



Aprende-se que a maioria dos crentes não criam em Trindade, mas eram “adoradores do Único Deus”. E mais: estes fiéis discordavam da Doutrina da Trindade porque diziam que esta implica na crença da pluralidade de deuses, o que é condenado pela Bíblia.

Sustentava a maioria dos crentes que YHWH é UM, manifestando-se de várias formas (Pai, Filho e Espírito). Eis como Tertuliano descreve o pensamento da multidão de discípulos de Yeshua:

“Ele mantém que só há um Senhor, o Todo-Poderoso Criador do mundo...

(...)

Ele diz que o próprio Pai desceu até a virgem, foi Ele mesmo nascido dela, Ele mesmo sofreu, de fato foi Ele mesmo Jesus Cristo.”

(Contra Práxeas, capítulo 1).

“No curso do tempo, então, o Pai verdadeiramente nasceu, e o Pai sofreu, o próprio Pai, o Senhor Todo-Poderoso, a quem em suas orações eles [os monarquistas] declaram ser Jesus Cristo.”

(Contra Práxeas, capítulo 2).

“Mas já que eles consideram os Dois como sendo senão Um, de forma que o Pai seja julgado como sendo o mesmo que o Filho, é justamente certo que toda a questão a respeito do Filho seja examinada, como, se Ele existe, quem Ele é e o modo de sua existência.”

(Contra Práxeas, capítulo 5).



Tertuliano reconhece que a concepção de o ETERNO ser UM, manifestando-se como Pai, Filho ou Espírito, é fruto da fé judaica, ou seja, representa o pensamento dos judeus nazarenos. Porém, Tertuliano critica o conceito judaico:

“Mas, esta doutrina sua dá testemunho à fé judaica, na qual esta é a substância - acreditar tanto na Unidade de Deus que recusa a reconhecer o Filho ao lado dele, e depois do Filho o Espírito.

(...)

Pois eles [adeptos da fé judaica] negam o Pai, quando dizem que Ele é o mesmo que o Filho; e eles negam o Filho quando eles supõem que Ele seja o mesmo que o Pai...”

(Contra Práxeas, capítulo 31).



No primeiro parágrafo citado, os adeptos da fé judaica discordam da ideia de que o Filho possa estar ao lado do Pai e do Espírito. Por quê? Porque para os judeus não existem Três Pessoas, mas apenas um único YHWH. Já no segundo parágrafo transcrito, fica claro que os crentes com fé judaica diziam que tanto o Pai quanto o Filho são o mesmo ETERNO. Este tema é importantíssimo, razão pela qual será desenvolvido com maior profundidade em outros artigos.



j) os israelitas do Caminho aceitavam a “tradição judaica”, mas não se subordinavam à halachá[4] rabínica

“Eles não têm ideias diferentes, mas confessam tudo exatamente como a Lei [Torá] proclama e na forma judaica ...”

(Epifânio de Salamina; Panarion 29)

“Escreveu [Hegésipo, o Nazareno] também muitas outras coisas, das quais fizemos menção anteriormente, em parte, ao dispor as narrativas conforme as circunstâncias. Põe algumas coisas tomadas do Evangelho dos hebreus e do Siríaco [aramaico], e em particular tomadas da Língua Hebraica, mostrando assim que se fez crente sendo hebreu. E não apenas isto mas também menciona outras coisas procedentes de uma tradição judia não escrita.”

(Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, editora Novo Século, 2002, página 92).



Apesar de os membros do Caminho seguirem certas tradições orais, não se sujeitaram às leis rabínicas (halachá) criadas pelos escribas e fariseus. Há cinco fragmentos de um antigo comentário dos nazarenos sobre o profeta Yeshayahu (Isaías), datado do século IV, apontando o manuscrito que os nazarenos não seguiram a halachá rabínica farisaica. Observe o que diz o comentário nazareno sobre Yeshayahu/Isaías 8:14:

“ ‘E ele deve ser um santuário, mas servirá de pedra de tropeço e rocha de escândalo às duas casas de Israel ...’. Os Nazarenos explicam as duas casas como as duas casas de Shamai e Hilel, das quais originaram os escribas e fariseus ... [eles, os fariseus] dissiparam e profanaram os preceitos da Torá [“Lei”] pelas tradições e pela Mishná. E essas duas casas não aceitaram o Salvador ... ”

(apud James Scott Trimm, Ten Historical Characteristics of the “Authentic” Netzarim).




CONCLUSÃO

Todos aqueles que buscam vivenciar a legítima e verdadeira fé em Yeshua devem se espelhar nos antigos netsarim (nazarenos), restaurando as práticas bíblicas dos discípulos originais do Mashiach, que se pautavam pelas crenças e condutas acima descritas.


[1] Epifânio, um dos “pais” da Igreja Católica, era inimigo dos nazarenos e, por tal razão, usou esta expressão depreciativa: “estão acorrentados pela Lei”. Na verdade, a Lei (Torá) não aprisiona ninguém, mas sim é um instrumento de bênçãos. Sha’ul (Paulo) escreveu : “Assim, a Torá [Lei] é santa; e o mandamento, santo justo e bom” (Ruhomayah/Romanos 7:12). Obviamente, se a Torá é santa, justa e boa, não produz mal ao ser humano, e sim bênçãos.


[2] Importante lembrar que Sha’ul (Paulo) circuncidou Timóteo (At 16:3), donde se conclui que não era contra a circuncisão (b’rit milá). Mas como explicar as diversas passagens em que Sha’ul (Paulo) aparentemente critica a circuncisão? (ex: Rm 2:25-29; Gl 5:2-6; Cl 2:11e 3:11). Sha’ul (Paulo) não se opôs à circuncisão em si, tanto é que circuncidou Timóteo, porém, reprovou aqueles que ensinavam ser a circuncisão requisito essencial da salvação (At 15:1). Logo, em suas cartas, Sha’ul está condenando o pensamento de que o sangue de Yeshua é insuficiente e que seria imprescindível a circuncisão para a obtenção da salvação. Em suma, lutou contra a seguinte fórmula: fé + circuncisão = salvação. Ensinou Sha’ul que a salvação se dá pela graça por meio da fé, não sendo a circuncisão pressuposto para a salvação (Ef 2:8). Porém, a prática da circuncisão em si é benigna e foi instituída pelo próprio ETERNO, sendo que a Torá prevê a b’rit milá obrigatoriamente para judeus e facultativamente para gentios (Gn 17:10-14 e 23-27; Ex 12:43-49). Sha’ul (Paulo) elogiou e pregou a circuncisão (Rm 3:1-2; Gl 5:11). Afirmou ainda que a circuncisão é proveitosa para aqueles que obedecessem a Torá (Rm 2:25), cabendo destacar que os discípulos de Yeshua eram zelosos no cumprimento da Torá (At 21:20).


[3] O pilar da fé judaica reside na crença de que YHWH é apenas 1 (UM): “Ouve, Israel, YHWH, nosso Elohim, YHWH é um” (Devarim/Deuteronômio 6:4). Este texto bíblico, em hebraico, é conhecido como Shemá (“Ouve”), e é repetido pelos judeus em suas orações pelo menos duas vezes ao dia (manhã e noite). Não existe nas Sagradas Escrituras nenhum texto dizendo: “O ETERNO são Três”, logo, a Doutrina da Trindade é antibíblica.


[4] Halachá é o conjunto de leis e mandamentos estabelecidos por rabinos, extraídos da interpretação da Torá e dos costumes e tradições do povo de Israel, servindo como guia de conduta do modo de viver judaico. Algumas leis rabínicas da halachá são incompatíveis com as Escrituras, levando Yeshua a reprová-las (Mc 7:8-9). Por outro lado, há costumes e tradições do povo de Israel que se harmonizam com a Bíblia, podendo ser observadas pelos seguidores de Yeshua (At 21:21 e 28:17 e 2ª Ts 2:15). Assim, deve-se utilizar a Palavra de YHWH como filtro das tradições, costumes e leis rabínicas.



DO JUDAÍSMO NAZARENO AO CRISTIANISMO PAGÃO



Por Tsadok Ben Derech



Os três pilares centrais do paganismo, conforme destacado em artigo anterior sobre a apostasia, foram Inácio de Antioquia, Marcião e Tertuliano, cujas doutrinas até hoje se fazem presentes no Cristianismo.

Inácio rebelou-se contra a autoridade israelita dos netsarim (nazarenos), promovendo a primeira grande cisão entre os seguidores de Yeshua. Criou a religião chamada Cristianismo, abalizada nas seguintes características: a) distanciamento total do Judaísmo de Yeshua e dos nazarenos; b) revogação da Lei (Torá); c) substituição do sábado (shabat) pelo domingo; b) concentração do poder nas mãos de um homem, reputado o representante de Deus na terra. Em sequência, Marcião reforça o paganismo, ao lecionar: a) que existem dois deuses em conflito no universo; b) o deus dos judeus é malvado e perverso, logo, deveriam os cristãos rejeitar tudo o que proviesse da religião judaica; c) anulação da Lei (Torá); d) divisão entre “Velho Testamento”, repleto de regras ímpias instituídas pelo deus dos judeus, e “Novo Testamento”, que revela o deus bom e amoroso, o Pai de Jesus. Para engrossar as fileiras da heresia, Tertuliano cria a doutrina da Trindade e lança para dentro do Cristianismo o politeísmo idólatra. Tudo isto foi chancelado pela Igreja Católica e, posteriormente, encontrou eco na teologia protestante, filha de Roma.

A partir de então, o Cristianismo foi afundando na areia movediça dos absurdos.

Justino Mártir (100 a 165 D.C) cresceu em meio a uma família pagã e, durante seus estudos, adotou o platonismo. Após se tornar cristão, lecionou acerca da eucaristia (“santa ceia”), prescrevendo que o pão e o vinho servidos eram literalmente o corpo e o sangue de Cristo (teoria da transubstanciação):

“Pois não tomamos estas coisas como pão ou bebida comuns; senão que assim como Jesus Cristo, feito carne pela palavra de Deus, teve carne e sangue para salvar-nos, assim também o alimento feito eucaristia (...) é a Carne e o Sangue de Jesus encarnado.”

(Primeiro livro das Apologias de Justino, páginas 65-67).



Tal como os outros “Pais” da Igreja, Justino Mártir divulgou a separação total entre cristãos gentios e judeus (nazarenos ou não), sob o fundamento de que a Lei foi anulada por Cristo.

No livro “Diálogo com Trifão”, assevera Justino que o Cristianismo é a nova lei para todos os homens. Já que na Lei (Torá) existem várias promessas aos filhos de Israel, Justino advoga a tese de que os cristãos são o Verus Israel (Verdadeiro Israel), ou seja, o povo eleito do SENHOR deixa de ser o Israel propriamente dito (descendentes carnais de Ya’akov/Jacó) e passa a ser a Igreja. Poderiam os cristãos desfrutar das bênçãos do ETERNO sem a necessidade de obediência à Torá (Lei). Escreveu Justino:

“Com efeito, ó Trifão, eu li que deveria vir uma lei perfeita e uma aliança soberana em relação às outras, que agora devem ser guardadas por todos os homens que desejam a herança de Deus. A Lei dada sobre o monte Horeb já está velha e pertence apenas a vós. A outra, porém, pertence a todos. Uma lei colocada contra outra lei anula a primeira; uma aliança feita posteriormente também deixa sem efeito a primeira.”

(Diálogo com Trifão, 11:2).



Na visão de Justino, a Lei (Torá) não deveria ser cumprida, pois se tornou velha. Porém, o próprio ETERNO ordenou que sua palavra (a Torá, in casu) iria durar para sempre (Tehilim/Salmos 119:160), e Yeshua testificou que não veio revogar a Torá (Matityahu/Mateus 5:17-19).

Para justificar o motivo pelo qual os cristãos não guardam o sábado (o quarto dos Dez Mandamentos; Ex: 20:88-11), Justino tem a ousadia de declarar que o mandamento criado pelo ETERNO deriva da iniquidade do povo judeu:

“Também nós observaríamos essa circuncisão carnal, guardaríamos os sábados e todas as vossas festas se não soubéssemos o motivo pelo qual vos foram ordenadas, isto é, por causa de vossas iniquidades e da vossa dureza de coração.”

(Diálogo com Trifão, 18:2).



Objetivando causar a separação total entre judeus e gentios, que outrora viviam em comunhão nas comunidades do Caminho, Justino acusa os judeus de serem responsáveis pela morte de Cristo. Escreveu o historiador Juan Pablo Sena Pera:

“Mais uma vez, Justino retoma o discurso rotulante e estigmatizante, ao afirmar que nem toda água do mar seria suficiente para apagar os assassinatos cometidos pelos judeus, e ainda caracteriza os rituais prescritos na Lei como incapazes de remover estes pecados, que somente poderiam ser removidos pela morte de Cristo. Há uma clara intenção de circunscrever a Lei ritual ao povo judaico, caracterizado como povo de assassinos, praticantes de rituais que em si mesmos seriam vazios, mas que encontrariam sua razão de ser apenas se entendidos como tipos proféticos de Jesus Cristo.”

(O Antijudaísmo de Justino Mártir no Diálogo com Trifão, Mimeografado, Vitória, 2009, página 85).



Responsabilizar os judeus pela morte do Messias se tornou um dos grandes slogans do Cristianismo, resultando em milhões de mortes ao longo da história, principalmente durante as Cruzadas, a Inquisição e o holocausto nazista – este último evento levou o extermínio covarde de seis milhões de judeus.

Muitos protestantes e evangélicos lavam suas mãos achando que suas Igrejas não participaram da chacina, não sabendo que Martinho Lutero incentivou o assassinato de judeus, e sua obra foi usada por Adolph Hitler ao propagar o antissemitismo no livro “Mein Kampf” (Minha Luta). Hitler citou expressamente a teologia de Lutero para sustentar o extermínio de judeus!!!

Enquanto seis milhões de pessoas estavam sendo dizimadas pelo nazismo, apoiado pela Igreja Católica, a Igreja Protestante se calou. Preciosa e verídica a parêmia popular: “quem cala consente”.

Prosseguindo na manchada história da Igreja Cristã, Irineu de Lyon (130 a 202 D.C) divulga o dogma de que Maria permaneceu perpetuamente virgem e é corredentora e salvadora ao lado de seu filho Jesus (Yeshua). Inicia-se a adoração à “Virgem Maria”, que passa a ser considerada a “mãe de Deus”:

“... Maria, embora tivesse marido, ainda era virgem e, obedecendo, tornou-se causa de salvação para si e para toda a raça humana.”

(Irineu de Lyon, Contra as Heresias, 3:22).



“A Virgem Maria... sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que ela daria à luz Deus.”

(Irineu de Lyon, Contra as Heresias, V, 19:1).



Apesar de ser óbvio, lembra-se que Miryam (Maria), após o nascimento de Yeshua, teve relações sexuais com Yosef (José), nascendo da união vários filhos e filhas (Matityahu/Mateus 13:53/56). E mais: o ETERNO é o Criador e não uma criatura, donde se conclui que não existe a figura da “mãe de Deus”, e tão somente a mãe terrena de Yeshua enquanto homem.

Outro grande problema da Igreja Gentílica diz respeito ao abuso da interpretação alegórica. Os cristãos, que eram oriundos do paganismo, tentaram conciliar o pensamento semita contido no Tanach (Primeiras Escrituras/“Antigo Testamento”) com a filosofia grega, usando um método de exegese que extrapola a literalidade do texto. Eis alguns exemplos:

“Justino afirmava que Lia representava os judeus, Raquel simboliza a igreja e Jacó é Cristo, que serve a ambos. A atitude de Arão e Hur de sustentar as mãos de Moisés simboliza a cruz. Justino afirmava que o Antigo Testamento era pertinente aos cristãos, mas essa pertinência, dizia ele, era percebida por meio de alegorização.

(...)

Irineu morou em Esmirna... Ele [Irineu] afirmou, por exemplo, que os três espias (e não dois!) que Raabe escondeu representam Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

(...)

Em sua excessiva alegorização, Clemente ensinava que as proibições mosaicas de comer porco, falcão, águia e corvo (Lv 11.7, 13-19) representavam respectivamente a ânsia impura pela comida, a injustiça, o roubo e a cobiça. No episódio em que 5000 pessoas foram alimentadas (Lc 9.10-17), os dois peixes simbolizam a filosofia grega (As Miscelâneas, 6.11).

(...)

Mediante a alegorização, Orígenes ensinava que a arca de Noé simboliza a igreja e que Noé simbolizava Cristo. O episódio em que Rebeca tirou água do poço para os servos de Abraão significa que devemos recorrer diariamente às Escrituras para ter um encontro com Cristo. Na entrada triunfal de Jesus, a jumenta representa o Antigo Testamento, o jumentinho o Novo Testamento e os dois apóstolos os aspectos moral e místico das Escrituras.

Orígenes desconsiderou a tal ponto o sentido literal e normal das Escrituras que seu estilo alegórico passou a ser caracterizado por um exagero incomum. Como disse certo autor, era ‘fantasia desmedida’.”

(A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Vida Nova, 2008, páginas 39, 41 e 42).



Apesar de a interpretação judaica admitir algum tipo de alegorização, esta possui limites estabelecidos e não pode se constituir um “cheque em branco” a ser preenchido ao alvedrio do intérprete. O Cristianismo pagão, fundado na filosofia grega, passou a deturpar as Escrituras Sagradas, criando fantasias que até hoje se encontram presentes.

Atualmente, vários textos bíblicos são distorcidos, por meio de alegorias, para sustentar a maligna teologia da prosperidade, que prega o acúmulo de riquezas materiais na terra por meio da “fé em Jesus”. Famosos pregadores proclamam: “Jesus morreu para você ficar rico”; “Você é o Senhor e Deus é Servo para lhe dar prosperidade”; “Muitas riquezas são sinais de muita unção”; “O pobre está vivendo debaixo de maldição”. Todas estas afirmativas absurdas são extraídas de interpretações equivocadas das Escrituras, pautadas em abuso manifesto da interpretação alegórica.

Já que o Tanach e a B’rit Chadashá narram inúmeras promessas do ETERNO ao povo de Israel, a solução dada pelos teólogos cristãos é alegorizar o texto e dizer que onde está escrito “Israel” deve ser lido “Igreja”. Esta técnica aniquiladora das Escrituras tem por objetivo legitimar o Cristianismo como religião criada pelo homem, bem como a manutenção do poder social, político, religioso e econômico das Igrejas.

O vendaval pagão também exerceu influência sobre aspecto medular do Cristianismo: a liturgia. Inicialmente, surgiu a liturgia católica em meio ao ambiente idólatra. Posteriormente, a liturgia protestante também se valeu dos mesmos elementos pagãos. Tanto a missa católica quanto o culto protestante possuem idêntica fórmula: a) cânticos; b) sermão e c) oração ou cântico no final. No sermão, somente o Padre ou o Pastor podem pregar, todos ficam calados e nenhuma pergunta pode ser feita. Este não era e nunca foi o modelo adotado pelos netsarim (nazarenos)! Nas reuniões do Caminho, todos os membros participavam de forma espontânea, livre e aberta, podendo ler as Escrituras, ensinar e formular perguntas. Os encontros eram participativos e todos eram considerados iguais, inexistindo a hierarquia eclesiástica que torna um homem superior ao outro. Atualmente, o Padre, o Pastor e o Rabino são reputados, na prática, como pessoas mais importantes do que os membros de suas congregações, o que é totalmente incompatível com as Escrituras.

Nossas colocações são endossadas pelo autor cristão Frank Viola:

“Os pastores falam rotineiramente a suas congregações, ‘fazemos tudo conforme a Bíblia’, contudo, praticam esta férrea liturgia. Eles não agem corretamente. (Acredito que esta falta de veracidade deve-se mais à ignorância do que à má fé).

Verifique sua Bíblia do começo ao fim, você não encontrará nada semelhante a isso. Os cristãos do século I nada sabiam sobre tais coisas. Na realidade, essa liturgia protestante tem tanto apoio bíblico quando à Missa católica! Nenhuma das duas têm qualquer ponto de contato com o N.T.”

(Cristianismo pagão, 2005, página 14).



“Pior que isso, embora Lutero falasse muito sobre ‘sacerdócio de todos os crentes’, ele nunca abandonou a prática de ordenação do clero. De fato, sua crença era tão forte em um clero ordenado que escreveu: ‘O ministério público da Palavra deve ser estabelecido pela ordenação santa como a mais importante das funções da igreja’. Sob a influência de Lutero, o pastor protestante simplesmente substituiu o sacerdote católico.”

(Ob.Cit., página 18).



Após comparar a liturgia católica com a protestante/evangélica, ambas inspiradas no paganismo, Frank Viola conclui:

“Enfim, a liturgia de Lutero era nada menos que uma versão truncada da Missa Católica! A Missa de Lutero detinha os mesmos problemas da Missa Católica: Os paroquianos continuaram sendo espectadores passivos (com a exceção de poderem cantar), e toda liturgia era dirigida por um clérigo ordenado (o pastor tomando o lugar do sacerdote).”

(Ob.Cit. página, 17).



O modelo do sermão vigente é antibíblico, porque é estruturado da seguinte forma: a) é pregado de cima do púlpito sempre por uma mesma pessoa (Padre, Pastor ou Rabino); b) trata-se de um monólogo dirigido a uma plateia passiva; c) contém uma introdução, o desenvolvimento (dois ou três tópicos) e uma conclusão. Nas sinagogas do primeiro século, frequentadas pelos netsarim (nazarenos), havia liberdade para que qualquer membro pudesse pregar a Torá, e todos poderiam formular perguntas e debater os temas examinados (David C. Norrington, To Preach or Not to Preach? The Church’s Urgent Question,.Carlisle: Paternoster Press, 1996, página 4).

Se no primeiro século não existia a figura do “sermão” tal qual hoje é conhecido, visto que a participação era coletiva, de onde surgiu o sermão cristão? Recorre-se ao magistério de Frank Viola:

“O sermão cristão foi adotado diretamente da fonte pagã da cultura grega!”

(Ob.Cit., página 35).



“O sermão do púlpito não é o equivalente à pregação encontrada nas Escrituras. A prática do sermão não é encontrada no Judaísmo do AT. Não é encontrada no ministério de Jesus, nem na vida da Igreja Primitiva. Além disso, Paulo disse aos gregos convertidos que ele próprio recusou ser influenciado pelas formas de comunicação utilizadas pelos pagãos de seu tempo.

O sermão é uma ‘vaca sagrada’ concebida no ventre da retórica grega. Nasceu na comunidade cristã quando os ex-pagãos (agora cristãos) começaram a levar seus estilos de oratória para a igreja. No século III era comum o líder cristão proferir sermões. No século IV virou norma.

O cristianismo absorveu sua cultura circundante. Quando o pastor sobe ao púlpito exibindo sua veste clerical e proferindo seu sermão sagrado, ele exerce o papel do antigo orador grego.”

(Ob.Cit., página 42).



Também deriva do paganismo a obsessão cristã pelo edifício da Igreja como sendo “a Casa de Deus”[1]. Milhões de cristãos acham que precisam ir à Igreja para serem abençoados, porque “Deus opera na Igreja, que é a Sua Casa”. Este não é o pensamento dos netsarim (nazarenos), porquanto Estevão discursou que o ETERNO “não habita em lugares feitos por mãos humanas” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 7:48), e Sha’ul (Paulo) declarou:

“O Elohim que criou o Universo e tudo o que nele há, que é Senhor do céu e da terra, não habita em templos erigidos por mãos humanas.”

(Ma’assei Sh’lichim/Atos 17:24).



Com a oficialização do Cristianismo no século IV pelo Imperador Constantino, este começou a construir edifícios de Igrejas nos mesmos moldes do paganismo. Proliferaram-se as igrejas ao longo do Império Romano, seguindo-se a metodologia pagã de “erigir templos para adorar aos deuses”. Curioso que Constantino designou suas Igrejas com nomes de santos, tal como os pagãos nomeavam seus templos com os nomes de seus deuses. Os edifícios tornaram-se lugares “sagrados”, dotados de uma aura mística que abençoaria seus frequentadores.

Tal noção profana subsiste até hoje no âmbito das denominações cristãs (católicas e protestantes/evangélicas), explícita ou implicitamente. Quem nunca ouviu Pastores falando na televisão: “Venham para o culto da nossa Igreja e você sairá abençoado”? Aliás, certa vez ouvi um evangélico dizendo a outros: “vocês não devem orar em casa, porque a bênção não está lá; vocês devem vir para orar nos cultos da Igreja”. Isto é, nada mais nada menos, do que idolatria ao local de culto!

Se de um lado líderes católicos e evangélicos constroem faraônicos Templos, por outro, esta prática nunca foi adotada pelos netsarim.

Reconhecido como um dos maiores estudiosos da História do Cristianismo, Philip Schaff escreveu que os discípulos originais de Yeshua não edificaram Igrejas, concluindo:

“O Salvador do mundo nasceu em um estábulo e subiu aos céus desde um monte. Seus Apóstolos e sucessores até o século III pregaram nas ruas, mercados, montes, barcos, sepulcros, cavernas, desertos e nas casas dos seus convertidos.

Contudo, milhares de igrejas e capelas caras foram e continuam sendo construídas em todo mundo para honrar o Redentor crucificado que nos dias de sua humilhação não possuiu nenhum lugar onde repousar a cabeça!”.



Considerando que este artigo não tem como objeto a História do Paganismo Cristão e diante da impossibilidade de se analisar dois mil anos de história em poucas páginas, coloca-se uma pausa na narrativa. Aliás, é desnecessário relatar todas as características pagãs do Cristianismo neste trabalho, uma vez que as marcas heréticas descritas acima vigoram até os dias de hoje, sendo facilmente constadas por qualquer pessoa. Coloquemos apenas algumas palavras finais.

Todos os elementos pagãos referidos estão presentes tanto na teologia católica quanto na protestante/evangélica. Já que os gentios cristãos se afastaram dos netsarim (nazarenos), perderam a oportunidade de aprender com os homens que receberam instruções pessoais e diretas de Yeshua ou de seus sh’lichim (emissários/ “apóstolos”). Todos os fundadores do Cristianismo pregaram a separação entre gentios e judeus, porquanto, se a união permanecesse, seria extremamente difícil que heresias se alastrassem. No final, o Judaísmo de Yeshua e de seus talmidim (discípulos) foi substituído pelo Cristianismo pagão, cujas doutrinas são estranhas à correta interpretação das Escrituras.

Atualmente, muitas pessoas estão descobrindo a verdade e retornando à verdadeira fé de Yeshua e de seus sh’lichim (emissários), descartando toda a contaminação espiritual pagã que se infiltrou no corpo do Messias. Que as palavras do professor Andrew Gabriel Roth e a profecia de Yirmeyahu/Jeremias possam tocar a vida dos leitores:

“O Cristo-Paganismo denota a assimilação do paganismo dentro do Cristianismo, introduzido no mundo das igrejas pelos ante mencionados e altamente venerados pós-apostólicos fundadores do Cristianismo Gentílico.

(...)

Estes ‘fundadores” da Igreja nunca conheceram os originais Shlichim [emissários/‘apóstolos’], nenhum deles teve as instruções de YHWH sobre justiça escritas em seus corações. De fato, estes prematuros filósofos cristãos e oportunistas não tiveram mais conhecimento em primeira mão dos ensinos de Yeshua e Paulo do que os teólogos de hoje. Porém, atualmente, acessando os Escritos em Aramaico [do ‘Novo Testamento’], podemos comparar por nós mesmos os escritos dos pós-apostólicos fundadores do ‘Evangelho Cristão’ e ver que estão muito longe da original Fé Nazarena

(...)

Apesar do rude, cruel e odioso ataque contra a Fé Nazarena pela multidão de opositores, que são ignorantes nas Escrituras, está crescendo o número de Judeus e Gentios que estão retornando para YHWH e vivendo a Fé em Yeshua, o Messias, que foi entregue para os justos. Claramente há uma forte diferença entre o que os pós-apostólicos fundadores da Igreja Gentia ensinaram e o que os originais Shlichim (emissários) do Messias viveram e ensinaram. O movimento Nazareno nos dias de hoje é o cumprimento da seguinte profecia:

YHWH, minha força e fortaleza, meu refúgio no dia da aflição, os Gentios virão a ti desde os confins da terra, e dirão: ‘Nossos antepassados herdaram mentiras, vaidade, e coisas sem nenhum proveito. Porventura fará um homem deuses para si, que contudo não são deuses? Portanto, Eu lhes farei conhecer de uma vez por todas, Eu os farei conhecer minha mão e meu poder; e eles saberão que meu nome é YAHWEH’ (Jeremias 16:19-21)”.


O RELACIONAMENTO ENTRE OS NETSARIM

E OS JUDEUS NÃO-CRENTES EM YESHUA



Por Tsadok Ben Derech



Estudou-se em outro artigo o relacionamento entre os netsarim e o Cristianismo, percebendo-se como esta religião, criada pelo homem, se desvirtuou dos ensinamentos de Yeshua, incorporando diversos elementos do paganismo.

Alguém poderia pensar que o escritor deste ensaio apenas critica o Cristianismo, isentando o Judaísmo de toda culpa. Não! O Judaísmo teve e ainda tem inúmeras mazelas, sofrendo os netsarim perseguição promovida por conta de seus próprios compatriotas judeus.

No primeiro século, existiam diversos grupos integrantes do Judaísmo, destacando-se os p’rushim (fariseus), os tsedukim (saduceus), os isyim (essênios) e os kanaim (zelotes). Não obstante, havia diversas subdivisões entre os grupos, que podiam chegar, segundo afirmam os historiadores, a até 40 subgrupos distintos.

Os fariseus eram profundos conhecedores da Torá, seguiam as tradições dos antepassados, criam na imortalidade da alma e na ressurreição dos mortos, na soberania e controle do ETERNO sobre todas as coisas, bem como na recompensa para os justos e o castigo para os ímpios no mundo vindouro.

Compunham os saduceus a classe sacerdotal e a elite dominante, centrando seus interesses mais na vida política do que na espiritual. Criam na Torá escrita, descartavam as tradições orais, não acreditavam em anjos e demônios, rejeitavam a ressurreição dos mortos e a imortalidade da alma.

Doutrinariamente, os essênios tinham as mesmas crenças dos fariseus: praticavam a Torá, porém, de acordo suas próprias interpretações; acolhiam as tradições, contudo, estas eram distintas das dos fariseus; criam na soberania do ETERNO e em seu controle sobre todas as coisas; acreditavam em anjos, demônios, imortalidade da alma e ressurreição. Apesar da semelhança de crenças em relação aos fariseus, alguns pontos de vista dos essênios eram diferentes: a) muitos deles praticavam o celibato com o intuito de buscar a elevação espiritual; b) alguns se isolaram em comunidades apartadas da sociedade, buscando uma vida de pureza e consagração; c) não iam ao Beit Hamikdash (Templo) e não ofereciam sacrifícios, porquanto achavam que os sacerdotes lá oficiantes eram ímpios e estavam a profanar o local.

Por sua vez, os zelotes eram os zelosos da Torá e da vida nacional do povo judeu, defendendo a luta armada e implacável contra o domínio de Roma, império idólatra.

Estas são as descrições gerais dos grupos, que recebiam inúmeras subdivisões. Neste cenário, surgiu Yeshua HaMashiach, cujos ensinos se aproximam do farisaísmo de Hilel e da doutrina dos essênios.

Os membros do Caminho, também conhecidos como netsarim (nazarenos), se tornaram mais um dos 40 segmentos do Judaísmo então vigente, ou seja, os sh’lichim (emissários/“apóstolos”) de Yeshua não eram reputados como pertencentes a outra religião, mas como um ramo do próprio Judaísmo.

Na época, eram comuns conflitos entre setores distintos do Judaísmo. Verbi gratia, houve episódio em que shamaítas mataram hileítas, sendo que ambos eram do partido dos fariseus. E com os netsarim não foi diverso, visto que os discípulos do Mashiach foram severamente perseguidos por seus irmãos judeus. Narra o livro Ma’assei Sh’lichim (Atos) o duro embate contra os membros do Caminho:

1) Kefá (Pedro) e Yochanan (João) foram presos porque pregavam a morte e a ressurreição do Mashiach (At 4:1-3), o que causou a indignação dos kohanim (sacerdotes) e tsedukim (saduceus), já que estes não criam em ressurreição;

2) os sh’lichim (emissários) foram presos e um anjo os libertou da prisão (At 5:17-19);

3) os sh’lichim foram açoitados por ordem do Sanhedrin/Sinédrio (At 5:40);

4) Estevão foi apedrejado até a morte (At 6: 8-15 e 7:1-60);

5) o Sanhedrin (Sinédrio) desencadeou perseguição aos netsarim que moravam em Yerushalayim (Jerusalém), levando à fuga de todos para as terras de Yehudá (Judeia) e Shomron (Samaria), excetuando-se os sh’lichim (emissários), que permaneceram em Yerushalayim/Jerusalém (At 8:1);

6) após Sha’ul (Paulo) reconhecer que Yeshua é o Mashiach, alguns judeus planejaram a sua morte (At 9:23);

7) o rei Herod (Herodes) prende alguns netsarim e manda matar Ya’akov (Tiago), irmão de Yochanan (João) (At 12:1-2);

8) Herod (Herodes) também determina a prisão de Kefá (Pedro), e este é liberto da prisão por um anjo (At 12:3-11);

9) Em Antioquia da Pisídia, Sha’ul (Paulo) e os netsarim conseguem pregar e convencer muitos judeus e gentios (At 13:43), sendo expulsos da cidade por incitação de certos judeus (At 13:50-51);

10) Judeus e gentios, em Icônio, perseguem Sha’ul e os netsarim (At 14:5);

11) Em Listra, judeus vindos de Antioquia e Icônio apedrejam Sha’ul, e pensaram que o tinham matado (At 14:19);

12) Judeus de Tessalônica vão a Bereia e incitam as multidões contra Sha’ul (At 17:13);

13) Sha’ul é preso em Yerushalayim (Jerusalém) e defende a sua fé perante inúmeras autoridades, até apelar para César e ser enviado a Roma (Atos 21 a 28).

Deste breve cenário extraído do livro de Ma’assei Sh’lichim (Atos), conclui-se que os netsarim sofreram severa perseguição por parte de alguns (nem todos) segmentos do Judaísmo. Apesar do conflito, o livro de Atos termina dizendo que a pregação do Reino de Elohim prosseguia, sem impedimento algum (At 28:31).

Um evento catastrófico irá marcar o início da desintegração do Judaísmo dos Nazarenos: a Revolta Judaica contra Roma pela independência de Israel (66 a 73 D.C), cujo resultado foi a vitória de Roma e a morte de aproximadamente 600 mil judeus, sendo destruída Yerushalayim (Jerusalém) no ano 70 D.C.

E o que aconteceu com os netsarim durante esta guerra? Há duas hipóteses. A primeira afirma que muitos netsarim foram mortos, enquanto um grupo menor conseguiu escapar. A segunda relata que os netsarim receberam uma revelação de Yeshua (ou de um anjo) de que Jerusalém seria destruída e, então, fugiram para Pella, distrito da cidade grega de Decápolis, situada a 24 quilômetros do lago da Galileia. Esta cidade contava com grande número de judeus, tendo Yeshua pregado no local e conquistado muitos seguidores (Mc 7:31 e Mt 4:25).

Após a devastação de Jerusalém, foram exterminados diversos grupos religiosos judaicos, subsistindo tão somente apenas dois segmentos expressivos: os p’rushim (fariseus) e os netsarim (nazarenos). Como ambos faziam parte do Judaísmo, frequentavam as mesmas sinagogas, tal como historia o livro Ma’assei Sh’lichim/Atos (At 9:2, 20; 13:5, 14, 15, e 43; 14:1; 17: 1,10 e 17; 18: 4, 8,19 e 26; 19:8). Insiste-se em repetir: os discípulos originais de Yeshua frequentavam sinagogas e não Igrejas.

Fariseus e nazarenos estavam debaixo das mesmas sinagogas, porque possuíam a mesma fé, excetuando-se que os primeiros esperavam a vinda do Mashiach, enquanto os segundos pregavam que o Mashiach já chegara. Porém, a cisão estava prestes a ocorrer.

Durante a rebelião judaica contra Roma entre os anos de 66 a 70 D.C., o líder dos p’rushim (fariseus) Yochanan Ben Zakkai fugiu da cidade dentro de um caixão, levado por seus discípulos. Posteriormente, dirigiu-se ao comandante militar romano Vespasiano como se este fosse o Imperador e, tendo em vista que o militar posteriormente se tornou o Imperador de Roma, conseguiu obter os favores deste e fundar uma escola judaica em Yavne, em razão do acerto de sua suposta profecia.

Consumando-se a destruição de Yerushalayim (Jerusalém) e do Beit Hamikdash (Templo), toda a vida religiosa ficou concentrada em Yavne. Já que não existia mais o Templo, como poderiam oferecer os sacrifícios para a expiação de pecados?

Ora, os netsarim (nazarenos) já não o faziam porque criam no sacrifício expiatório de Yeshua HaMashiach, porém, os outros judeus tiveram que encontrar uma maneira para resolver esta questão. Yochanan Ben Zakkai convenceu os demais líderes de que o sacrifício de animais deveria ser substituído pela oração, fundamentando seu raciocínio no seguinte texto: “Pois desejo misericórdia, não sacrifícios” (Hoshea/Oséias 6:6). Passou o Sanhedrin (Sinédrio) a exercer suas funções em Yavne, sob a liderança de Yochanan Ben Zakkai.

Outrora, netsarim (nazarenos) e p’rushim (fariseus) frequentavam as mesmas sinagogas e iam ao Templo em Jerusalém, até pelo fato de que muitos fariseus passaram a crer em Yeshua HaMashiach. O fariseu que seguia Yeshua continuava fariseu, tal como Sha’ul (Paulo) afirmou anos depois de ter aceitado o Mashiach: “Irmãos, eu sou parush (fariseu), filho de p’rushim (fariseus)” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 23:6).

Retornando ao ponto inicial, se no passado netsarim (nazarenos) e p’rushim (fariseus) estavam nas mesmas sinagogas em Jerusalém, com a destruição da cidade santa no ano 70 D.C, os primeiros foram para Pella e os segundos para Yavne. Esta separação geográfica acarretaria uma divisão final entre os grupos.

Em Yavne, os fariseus criaram as bases do Judaísmo Moderno, instituindo inúmeras leis rabínicas contrárias à Torá e aos ensinamentos de Yeshua HaMashiach. A respeito, ensina Moshé Ben Shaul:

“Antes de 70 DC, havia muito mais judeus e eles podiam se dar ao luxo de permitir diversos segmentos e opiniões. Com o número de judeus drasticamente reduzido e o Templo destruído, Yochanan [Ben Zakkai] achou que para que o Judaísmo sobrevivesse eles precisavam se unir (será que podemos aprender com isso?). Eles achavam que precisavam começar a codificar as tradições orais e concordar em teologia e doutrina. Isto levou muitos anos e houve muitas brigas, uma vez que existiam muitas crenças em meio aos fariseus.

A maior das brigas foi talvez entre Gamliel II e Rabi Akiva, no início do segundo século. Gamliel II achava que o Farisaísmo precisava apenas de umas mudanças pequenas, enquanto Akiva achava necessário criar um sistema que desse todo o poder e autoridade aos rabinos. Akiva então trouxe a doutrina de que a lei oral foi dada ao mesmo tempo em que a Torá, e que Moisés, David, etc eram rabinos. Ele ganhou a disputa com Gamliel em uma batalha que foi bem feia e cheia de malícia de ambos os lados.

Com Akiva no comando, finalmente eles decretaram que os rabinos poderiam mudar a Torá se necessário e que a maioria dos rabinos (todos partidários de Akiva) poderiam até sobressair à Bat Kol (voz de Deus). Eles criaram uma nova tradução para o grego do Tanach para substituir a Septuaginta e um novo Targum Aramaico (Onkelos), ambos os quais estavam mais de acordo com a teologia de Akiva.

Eles não podiam mudar a versão hebraica, mas os comentários deles sobre a suposta lei oral e o Tanach tornaram-se a autoridade final. Eles podiam descartar decisões rabínicas das quais eles não gostavam. O resultado disto é o Judaísmo Ortodoxo de hoje.

(...)

Recapitulando, os fariseus estavam em Yavne e os Nazarenos em Pella. O cisma antes era apenas uma discussão interna. Agora estavam se distanciando de forma considerável e uma ruptura total era inevitável. Os rabinos de Akiva começaram a trazer novas regras e teologia.”

(The Nazarenes, artigo publicado por Moshé Ben Shaul, com base na obra de Ray A. Pritz, intitulada Nazarene Jewish Christianity: From The End Of The New Testament Period Until Its Disappearance In The Fourth Century).



Como se pode aprender, os nazarenos seguiam a Torá de acordo com a interpretação fixada por Yeshua, porém, os fariseus se achavam dotados de autoridade para criar leis rabínicas (halachá), sendo que muitas delas contrariavam as Escrituras e os ensinos do Mashiach. Uma coisa é estabelecer uma lei que interpreta a Torá, outra totalmente diversa é instituir uma lei que cria mandamentos novos não existentes na Torá ou até mesmo contrários a esta. É óbvio que os nazarenos não iriam se submeter às regras instituídas pelo Rabino Akiva e seus seguidores, porquanto Yeshua já havia criticado “doutrinas que são mandamentos de homens” e tradições que anulavam “a Palavra de Elohim” (Yochanan Marcus/Marcos 7:7-9 e 13).

Se não bastasse, o Rabino Akiva passou a ensinar que o ETERNO entregou duas leis distintas a Moshé (Moisés) no monte Sinai: 1) a Torá escrita, que são os cinco primeiros livros da Bíblia (Torá Shebiktav) e 2) a Torá Oral (Torá Shebeal pê), que conteria explicações, interpretações e ensinamentos da Torá escrita. Akiva começou a estudar e a classificar a Lei Oral, trabalho continuado pelo rabino Meir e pelo discípulo deste, o rabino Yehudá HaNassi. Aproximadamente no ano 200 D.C, Yehudá HaNassi culmina todo o trabalho com a compilação da Mishná (parte do Talmud), ou seja, a Lei Oral agora se tornava escrita. Reporta-se o pensamento do Judaísmo Moderno:

“É crença fundamental do judaísmo histórico que a Torá nos foi dada no Sinai: o imortal Moisés recebeu-a do Todo-Poderoso, ensinou-nos sua mensagem e entregou a nós, seu povo. A Torá era constituída por duas partes: a primeira delas, o Pentateuco, ou os Cinco Livros de Moisés, que chamamos de Torá Shebichtav, a Torá escrita. A segunda parte era a Torá shebealpê, a Torá oral, que continha explicações, interpretações e ensinamentos da Torá escrita. A Torá shebealpê não deveria ser escrita: era ensinada oralmente, como um complemento da Torá escrita.

Moisés ensinou o sagrado Livro da Torá, acompanhado por suas interpretações, a seu discípulo Josué. Este então ensinou-a aos Anciãos e eles, por sua vez, ensinaram-na a outros. Tudo o que era transmitido oralmente deveria ser repetido e repassado muitas vezes, assegurando-se assim que nada seria esquecido. Esta prática recebeu o nome de Mishná, palavra que significa um conjunto de ensinamentos e instruções.

A Mishná tornou-se nossa Tradição Oral, transmitida pelos mestres aos alunos, de geração em geração. Desde o início era proibido compilar por escrito qualquer parte da Tradição Oral, por dois motivos. Primeiro, para que mestres e alunos se empenhassem a fundo, sempre por muitas horas, de modo a assegurar que tudo fosse perfeitamente lembrado e minuciosamente compreendido.

(...)

Em segundo lugar, temia-se que, se a Torá oral viesse a ser transcrita, as pessoas passariam a pensar nela como parte integrante da Torá Shebichtav e começariam a tratá-la como tal.”

(Irving M. Bunim, A Ética do Sinai, Sefer, 2009, página II).



Qual o grande problema dos nazarenos em relação à Lei Oral?

Primeiramente, não existe nada na Bíblia afirmando que o ETERNO deu duas leis a Moshé (Moisés), uma escrita e outra oral. À luz do Texto Sagrado, o ETERNO apenas entregou a Torá Escrita a Moisés, inexistindo outro tipo de lei. Logo, os nazarenos devem se pautar apenas por aquilo que realmente está escrito na Bíblia. Em segundo lugar, a Lei Oral contém inúmeras regras que violam a Torá Escrita e/ou os ensinos de Yeshua. Consequentemente, os nazarenos não poderiam aceitar a autoridade de rabinos cujas lições contrariam as Escrituras.

Compendiam-se as cinco principais razões pelas quais está equivocada a ideia de que existe uma Lei Oral inspirada pelo ETERNO:

1) a Lei Oral não é mencionada sequer uma vez no Tanach (Primeiras Escrituras/“Antigo Testamento”);

2) nem Yeshua e nem seus discípulos falaram expressamente sobre a existência da Lei Oral;

3) quando Elohim ordenou a Moshé (Moisés) que subisse ao monte Sinai para receber as tábuas, disse-lhe: “Suba o monte, venha até mim, e fique aqui; e lhe darei as tábuas de pedra com a Torá e os mandamentos que escrevi para a instrução do povo” (Shemot/Êxodo 24:12). Nenhuma menção é feita de uma Lei Oral;

4) o Tanach afirma que os rolos da Torá foram perdidos e completamente esquecidos por mais de 50 anos, e só foram redescobertos pelos sacerdotes do Templo (II Rs 22:8; II Cr 34:14-15). É inconcebível que uma Lei Oral pudesse ter sido lembrada se até mesmo a Lei escrita foi esquecida;

5) as palavras da Mishná e do Talmud são claramente palavras de homens que viveram entre os séculos II a V depois de Yeshua, faltando as seguintes fórmulas tão tradicionais dos relatos bíblicos: “E YHWH falou a..., dizendo:” e “Assim diz YHWH” etc;

6) aqueles que escreveram a Lei Oral foram homens que negaram Yeshua HaMashiach, logo, é impossível que tais homens tenham recebido a inspiração do ETERNO para redigir outros livros que integrariam o cânon das Sagradas Escrituras;

7) os rabinos afirmam que a Lei Oral é a interpretação oficial da Torá dada pelo ETERNO a Moshé (Moisés) no Monte Sinai. Contudo, se realmente olharmos para os tratados do Talmud, perceberemos que estão cheios de opiniões de rabinos que discordam uns dos outros em quase todas as questões. Os rabinos explicam que sempre que houver tais discordâncias “ambas as opiniões são as palavras do Elohim vivo”. Ora, não é razoável acreditar que o ETERNO iria se contradizer em sua própria Palavra.

Por isto, até mesmo antes da codificação completa do Talmud (500 D.C), a Lei Oral que começou a ser pregada pelo rabino Akiva, o Pai do Judaísmo Moderno, não contou com o apoio dos nazarenos no século II D.C. Se por um lado os nazarenos não criam na Lei Oral supostamente inspirada pelo ETERNO, por outro, seguiam boas tradições interpretativas da Torá que foram herdadas de seus antepassados (At 21:21 e 28:17; II Ts 2:15). Em suma, há boas tradições que foram observadas pelos nazarenos, porém, estes discordaram de tradições meramente humanas e que foram elevadas ao status divino por meio da falsa ideia de que o ETERNO outorgou uma Lei Oral a Moshé (Moisés). Aliás, Yeshua chegou a criticar muitas das tradições dos p’rushim (fariseus) e dos mestres da Torá (Mc 7:7-13), o que levou à divergência entre os nazarenos e os fariseus no tocante às tradições da “Lei Oral”[1].

Importa reproduzir o antigo comentário dos nazarenos sobre o profeta Yeshayahu (Isaías), datado do século IV, indicando que os nazarenos não seguiam a Lei Oral preconizada pelo judaísmo rabínico, porque contrariava a Torá:

“Os Nazarenos explicam as duas casas como as duas casas de Shamai e Hilel, das quais originaram os escribas e fariseus ... [eles, os fariseus] dissiparam e profanaram os preceitos da Torá [“Lei”] pelas tradições e pela Mishná. E essas duas casas não aceitaram o Salvador...”

(apud Ten Historical Characteristics of the “Authentic” Netzarim, James Scott Trimm).



Pelo fato de os nazarenos reconhecerem Yeshua como Mashiach e os judeus tradicionais não, estes passaram a chamar os nazarenos de “Minim” (hereges) – forma singular: “min” (herege).

O vocábulo “minim” era usado para designar todos os hereges, mas principalmente os nazarenos.

De acordo com o Dictionary of the Targumim, Talmud Babli, Yerushalami and Midrashic Literature, Marcus Jastrow define “Min”: “... sectário, infiel... um judeu infiel, principalmente aplicado aos cristãos judeus”. No referido Dicionário, Jastrow usa o termo “cristãos judeus” para se referir aos nazarenos. Muitos especialistas sustentam que o vocábulo “Min” é um acróstico para uma frase em hebraico que significa “crentes em Yeshua, o Nazareno”.

Então, ficou tenso o clima entre os fariseus e os nazarenos, já que ninguém gosta de ser chamado de “herege”. Aumentou o conflito quando os fariseus determinaram a queima dos “Livros dos Minim” (a B’rit Chadashá/“Novo Testamento”), conforme se verifica no Talmud, Tratado de Shabat 116a:

“As margens e os livros dos Minim não podem ser salvos, mas devem ser queimados em seu lugar, eles e os seus ‘memoriais’ [isto é, os nomes sagrados do ETERNO no texto].

O Rabino Yosef disse: Nos dias da semana, é preciso cortar os nomes divinos que eles contêm e escondê-los, queimando o resto”.



No contexto desta passagem talmúdica, há um debate entre os rabinos sobre o que fazer com os “Livros dos Minim”, o que evidentemente incluiria os escritos da B’rit Chadashá (“Novo Testamento”). Para os rabinos Tarfon e Ishmael, todos os livros deveriam ser queimados. Por outro lado, o rabino Yosef, temendo que poderia ser profanado YHWH caso seu nome fosse levado ao fogo, pensava que os textos em que apareciam os nomes do ETERNO deveriam ser cortados, queimando-se o restante dos rolos.

Se a solução para os livros da B’rit Chadashá (“Novo Testamento”) foi a queima, surgiu novo debate entre os rabinos tradicionais acerca da seguinte questão: o que fazer com um rolo da Torá escrito por um “min”? Seria válido adquirir este livro ou também deveria ser queimado?

Eis a resposta do Tratado de Gitin 45b:

“R. Budia disse ao R. Ashi: [A Mishná diz que] não devem ser comprados por mais que o seu valor, mas [presumivelmente] podem ser comprados por seu valor. Isso mostra que um pergaminho da Torá, que é encontrado na posse de um pagão, pode ser lido?

Talvez ele possa ser comprado para ser guardado.

R. Nahman disse: Temos por tradição que um rolo da Torá que foi escrito por um Min deve ser queimado”.



Acrescenta-se mais um fator que promoveu a divisão entre os fariseus e os nazarenos: a instituição da “Birkat HaMinin” (literalmente “Bênção dos Hereges”). Apesar de o nome ser “benção”, tratava-se de uma verdadeira maldição lançada pelos judeus tradicionais contra os nazarenos. Entre os anos 80 a 90 D.C, nas sinagogas frequentadas por nazarenos e fariseus, estes acrescentaram a seguinte “bênção” na amidá:

“Que os sectários e os nazarenos[2] morram em um instante se não retornarem para Ti e para a Tua Torá. Que eles sejam apagados do livro da vida e não sejam inscritos entre os justos”.



Sobre a citada maldição, comentou Moshé Ben Shaul:

“Ora, os Nazarenos obedeciam sim à Torá, só que não da maneira farisaica. Esta ‘bênção’ foi inserida para separar os Nazarenos do Judaísmo tradicional. Ao contrário do restante da Amidá, que era feita silenciosamente e de forma bem suave, esta ‘bênção’ tinha que ser recitada em alto e bom som. Se você fosse um Nazareno, teria como opções deixar a sinagoga ou amaldiçoar a si mesmo[3]. Isto, é claro, separou os Nazarenos dos fariseus ainda mais, porém até certo ponto ainda havia diálogo entre eles até a metade do 2º século e alguns deles podem ser lidos no Talmude.

Entre a destruição do Templo em 70 D.C e a revolta de Bar Kochba cerca de 135 D.C, o cisma entre os fariseus e os Nazarenos continuou a crescer (lembre-se que eles eram os dois únicos grupos que haviam restado no Judaísmo).”

(Ob.Cit).



Já que seria muito difícil que os Nazarenos amaldiçoassem a si mesmos, supõe-se que abandonaram as sinagogas em que a citada “bênção” era proferida. Cumpriu-se a profecia de Yeshua:

“Eles os expulsarão das sinagogas...”

(Yochanan/João 16:2)



O marco da separação final entre os judeus tradicionais e os judeus nazarenos ocorreu durante a chamada “Revolta de Bar Kochba”, líder militar que capitaneou a revolta dos hebreus contra o Império Romano durante os anos de 132 a 135 D.C.

Shim’on Bar Kosiva foi declarado o Messias de Israel pelo rabino Akiva, o citado Pai do Judaísmo Moderno. Akiva mudou o nome Bar Kosiva para Bar Kochba (Filho da Estrela), em alusão à profecia messiânica de Bemidmar/Números 24:17.

Enquanto os nazarenos tinham Yeshua, parte[4] dos judeus reputou Bar Kochba como Messias.

A vitória temporária de Bar Kochba sobre os romanos acendeu a esperança dos judeus tradicionais de que ele realmente seria o Messias, aumentando-se tal fé pelo fato de o rabino Akiva gozar de muito prestígio, pois liderava o Sanhedrin (Sinédrio).

Justino Mártir dissertou (100 a 165 D.C) que Bar Kochba deu ordens para que os seguidores de Yeshua fossem submetidos a punições cruéis, a menos que negassem Yeshua como Messias e blasfemassem contra seu nome (I Apologia 131). Se Bar Kochba se considerava o verdadeiro Mashiach, obviamente não aceitaria a concorrência de Yeshua. Esta perseguição também é relatada por Eusébio, consoante o escólio do historiador David Flusser:

“Sabemos das Crônicas de Eusébio que Bar-Kochba punia os cristãos [corrigindo: nazarenos[5]] porque se recusavam a lutar junto com ele contra os romanos. Eles evidentemente se recusaram a fazê-lo devido à sua crença de que o Messias já tinha vindo e que não retornaria agora na figura de Bar-Kochba. Parece-me que, dessa forma, havia uma ligação entre a punição dos cristãos [corrigindo: nazarenos] por Bar-Kochba e a crença deles de que Jesus era o Messias.”

(O Judaísmo e as Origens do Cristianismo, Volume III, Imago, 2002, página 187).



Este relato da brutalidade de Bar Kochba é condizente com sua agressividade. Narra Hugh J. Schonfield que Bar Kochba, para testar a coragem de seus soldados, ordenou que cortassem um de seus dedos, e matou seu tio pela mera suspeita, despida de provas, de que pudesse ser um traidor (The History of Jewish Christianity, London, 1936, página 31).

No final da guerra liderada pelo pseudo Messias Bar Kochba, os romanos venceram e aproximadamente 850.000 (oitocentos e cinquenta mil) judeus foram mortos. Bar Kochba teve sua cabeça decapitada e o rabino Akiva foi torturado até a morte pelos romanos, que usaram um pente de ferro em brasa para rasgar sua pele e corpo.

Mudou o Imperador Romano Adriano o nome de Jerusalém para Aelia Captolina (Capital do Sol, o deus romano), expulsando os judeus da terra prometida (135 D.C). Todos os judeus (nazarenos ou não) foram perseguidos e proibidos de entrar na cidade santa. Foi colocada uma imagem de Júpiter em Jerusalém, e uma estátua do Imperador Adriano no local em que outrora ficava o Templo de YHWH. Este exílio de Jerusalém somente terminou com o reconhecimento do Estado de Israel em 1948, e a retomada definitiva da cidade em 1967, na Guerra dos Seis Dias.

A partir da Diáspora de 135 D.C, o judaísmo tradicional apartou-se de vez do judaísmo dos nazarenos, visto que os judeus foram mortos ou espalhados pelos quatro cantos da terra.

E qual o destino dos nazarenos desde então?

Uns foram mortos na referida Revolta. Ao longo dos séculos, outros foram perseguidos e dizimados pela Igreja Católica, muitos foram convertidos à força ao Catolicismo Romano e, enfim, existiu um menor grupo que permaneceu firme com a fé nazarena – o remanescente fiel.

Muitos eruditos já pesquisaram sobre quando foi supostamente extinto o grupo dos nazarenos. Há teses no sentido de que desapareceram: a) no século IV; b) no século X e c) no século XIII. Por outro lado, há quem sustente que os nazarenos nunca foram erradicados, preservando o ETERNO um grupo de israelitas que cumpre a Torá e têm o testemunho de Yeshua HaMashiach (Guilyana/Apocalipse 14:12).

Particularmente, cremos que os nazarenos nunca desapareceram por completo. Foram perseguidos, mortos e reduzidos numericamente, porém, ao longo de toda a história de Israel, YHWH manteve para si um remanescente fiel (Ruhomayah/Romanos 11:5).







[1] Hermann Strack teoriza que o crescimento dos escritos dos Nazarenos, ou seja, a B’rit Chadashá (“Novo Testamento”), foi um fator que influenciou os rabinos a registrar a lei oral através da escrita (Introduction to the Talmud and Midrash, Jewish Publication Society, 1945). Com isto, pode-se supor que a compilação da “Lei Oral” tenha sido uma resposta dos fariseus e de seus descendentes para combater os Escritos dos Nazarenos (B’rit Chadashá). Isto é, apesar de nazarenos e fariseus usarem o Tanach, o uso da B’rit Chadashá pelos primeiros levou os segundos a criar suas próprias Escrituras – a Lei Oral, cuja redação final culminou com o Talmud.


[2] Tendo em vista que, em momento posterior, os “Pais” da Igreja começaram a acusar os judeus de amaldiçoar todos os cristãos sob o rótulo de “nazarenos”, o Judaísmo alterou a “Bênção” contra os Hereges, excluindo o vocábulo “nazarenos”. Atualmente, a Birkat HaMinim se encontra na 12ª bênção da Amidá: “Que para os caluniadores não haja esperança, que os hereges sejam prontamente aniquilados, e que os inimigos de Teu povo sejam depressa extirpados. E os malvados – depressa destroça-os, quebra-os, oprime-os, abate-os, humilha-os e domina-os. Bendito sejas Tu, Eterno, que quebras os inimigos e dominas os malvados”.


[3] Há estudiosos lecionando que a Birkat HaMinin não se dirigia aos nazarenos, como David Flusser (O Judaísmo e as Origens do Cristianismo, Volume III, Imago, 2002, páginas 187 a 191). Não obstante, Flusser reconhece que existem dois textos da Birkat HaMinin encontrados na Guenizá do Cairo, contendo maldições contra os nazarenos (Ob.Cit. página 187). Por este motivo, creio que o Judaísmo Tradicional realmente amaldiçoou os nazarenos.


[4] Muitos não reconheceram Bar Kochba como Messias, principalmente certo segmento farisaico.


[5] As interpolações entre colchetes foram realizadas por mim. Flusser chama os judeus discípulos de Yeshua de “cristãos”, sem levar em conta que os talmidim judeus eram conhecidos como “nazarenos”. Na Revolta de Bar Kochba, somente foram convocados para o serviço militar os judeus, e não os gentios, razão pela qual concluimos que o texto está se referindo aos nazarenos (judeus) e não aos cristãos (gentios).



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